sábado, 6 de março de 2010

"Altered Statesmen: Churchill", (Discovery Channel, 2007)

Por Luiz Eduardo Silva Parreira

O Discovery Channel já foi imperdível. Mas, vez por outra, se redime e transmite documentários sensacionais.

Um desses é o "Altered Statesmen". O objeto da série é mostrar o "backstage" da vida de grandes líderes mundiais; o seu lado humano, fraco, titubeante. E o primeiro episódio não poderia ter escolhido pessoa melhor: Winston Churchill.

O episódio deslinda fatos como o forte temperamento de Churchill, seus problemas com o que denominava "black dog" (sua depressão), a tentaçã etílica e o ponto mais controvertido: sua suposta personalidade bipolar.

Mas, controvérsias à parte, esta biografia - um tanto psiquiátrica - de Churchill revela aquilo que sempre admiriei nele: venceu, chegou onde queria, sempre se mostrando e sendo um ser humano; não escondendo seus defeitos (não que os quisesse mostrar, apenas não conseguia escondê-lo).

Não pretendia passar a idéa de um super-homem ou um predestinado, como Hitler. Ao reverso, sua ambição (coisa totalmente diferente de ganância) sempre o impulsionava a pensar grande. E se tornou aquele que ousou desafiar Hitler em 1940, quando a Alemanha parecia invencível, dando esperanças de que os nazistas podiam ser derrotados.

Ou seja, só conseguiu isso porque o Churchill que existia na sua cabeça se materializou quando se elegeu primeiro-ministro inglês.

Entretanto, isso não aconteceu por acaso. Foi uma luta constante do homem Churchill atrás de si mesmo. Errou várias vezes, perdeu outras tantas batalhas da vida, mas no final, não só conduziu a Grã-Bretanha à vitória, como voltou para uma segunda estada em "10 Downing Street", desta vez advertindo o mundo contra o perigo comunista. O termo cortina de ferro, aliás, foi cunhado por ele, no seu discurso proferido no Westminster College, no Missouri, em 5 de março de 1946 e que pode ser lido aqui.

Um ótimo documentário, que faz com que se admire ainda mais este grande estadista do Século XX.

sexta-feira, 5 de março de 2010

"The War Game" (BBC,1966)

Por Luiz Eduardo Silva Parreira

O século XX foi a adolescência da humanidade. Nesse período se abusou de tudo, se fez de tudo. A pior delas, depois do Comunismo1, - sem dúvida alguma - foi o jogo denominado Guerra Fria, no qual os "players" podiam literalmente torrar o planeta mais de 10 vezes, se algum deles pensasse que outro estivesse despejando milhares de ogivas nucleares sobre sua cabeça.


Foi justamente o medo da retaliação nuclear que impediu que essa guerra de nervos esquentasse.


Hoje, mais de cinquenta anos depois, muitos não entendem o porquê se tenta desestimular o Irã de fabricar sua bomba atômica. Após décadas tentando controlar a disseminação de armas nucleares em todo país que via nesse ato um gesto de poderio, de grandeza; deixar extremistas religiosos no controle de tamanho poder é voltar à insegurança que se vivia em 1960. Um preço caro demais.


O docudrama (termo terrível) feito pela BBC, em 1966, "The War Game", mostrou com tamanho realismo como seriam as consequências de um ataque nuclear na Inglaterra, que sua veiculação só foi permitida mais de 20 anos depois.


Horror atrás de horror. Para se ter uma ideia, quem morresse nos primeiros instantes da guerra nuclear poderia ser considerado um sortudo! Os que sobrevivessem, teriam de lutar contra radiação, ondas de choque, tempestades de fogo, milhares de mortos nas ruas, falta de alimento, de remédios e de esperança.


Evacuações forçadas pelo governo de Sua Majestade separariam famílias que, quiçá, jamais voltariam a se ver. A prioridade era dar sobre vida àqueles que poderiam reconstruir o país no futuro; portanto, crianças (força de trabalho) e mulheres (reprodutoras). Os homens de 18 anos em diante, seriam empregados nos combates militares e no controle dos inevitáveis distúrbios civis por comida e abrigo.


Importante destacar que o documentário mostra os efeitos - além dos físicos - psicológicos numa geração de pessoas que teria a responsabilidade de reconstruir a sociedade em que viviam quase que da estaca zero.


Enfim, lamentavelmente, é um documento atual, pois, agora, serve de reflexão para que se apóie os atos mundiais que visam impedir que o Irã obtenha sua força nuclear.


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1 - Textos sobre o comunismo podem ser lidos aqui.

quinta-feira, 4 de março de 2010

"The Saddam Family" (A&E, 2004)

Por Luiz Eduardo Silva Parreira

O Iraque é um país do Oriente Médio. Sua capital, Bagdá, é banhada pelos rios Tigre e Eufrates; a Mesopotâmia. Lá foi o berço da humanidade. É a terra de Abraão e de Nabucodonosor. Terra dos jardins suspensos da Babilônia.

Mas todos se lembram do Iraque da época da I Guerra do Golfo, quando invadiu o Kuaite¹, em 1991. Presidia o país neste último período o ditador Saddam Hussein.

Husseim ainda participou como presidente da II Guerra do Golfo, quando foi deposto, em 2003.

Criado dentro dos fortíssimos laços de irmandade proveniente da tradição dos clãs, seu governo mantinha parentes próximos em postos-chave.

Mas o seu círculo mais próximo, formado pelos filhos e esposas, é que objeto do documentário, sendo que a figura de destaque o filho mais velho de Saddam, Uday.

Saddam era um assassino frio. Mandou executar seus opositores sem qualquer remorso e quando chefe da polícia secreta, levava seus filhos homens para assistirem as sessões de tortura praticadas contra aqueles que ousavam desafiar os socialistas do Baath, seu partido político. E Uday saboreava cada segundo. Admirava Hitler e Stalin.

Este monstro cresceu convicto de que era intocável - filho do ditador - e por isso cometeu barbaridades: mandou matar moças que se recusaram a namorar com ele, estuprou meninas de 13 anos; pobres, da periferia de Bagdá. Usava drogas e quando bêbado, atirava a esmo na direção de pessoas, só por diversão. Há uma cena no filme que inclusive mostra um momento desses. Era um sádico e louco que pensou que conseguria fugir do cerco feito pelos aliados em Mosul. Resisitiu e foi morto, jundo com o irmão, Qusay, que estava sendo preparado para assumir o lugar de Saddam.

A Bagdá dos anos 80 era o "playground" dos Hussein: carros caros, viagens, palácios e jóias. Tudo parecia que jamais teria fim. Mas nada é para sempre.

E Uday foi o pivô do primeiro desastre familiar. Seus cunhados, generais do Exército Iraquiano, que haviam fugido para a Jordânia e lá revelado alguns segredos do regime; sob a promessa de Saddam de que poderiam voltar, pois perdoados, foram mortos pelos filhos do ditador dias depois de terem cruzado a fronteira.

Hoje suas filhas moram na Jordânia, com seus netos. Vivem supostamente do dinheiro sacado às pressas dos bancos de Bagdá, antes da invasão de 2003, pelo ditador.

O filme termina com as cenas da captura de Saddam e sua inspeção médica. Foi produzido em 2004. Dois anos depois, Saddam foi sentenciado à forca, como seus inspiradores nazistas.

Muito bom o documentário.
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¹Escrita adotada pelo Itamaraty.