sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Onde estão nossos pracinhas?

Por Luiz Eduardo Silva Parreira

Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha Nazista invadiu a Polônia: começava a SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.

Durante os primeiros anos de guerra, o EIXO (Alemanha, Itália, Japão) e os ALIADOS (Império Britânico, França, Estados Unidos da América e União Soviética) buscavam seduzir outros países para apoiá-los, seja politicamente, seja militarmente.

Neste ínterim, numa atitude covarde, os comandantes da Kriegsmarine (Marinha de Guerra da Alemanha nazista) e da Regia Marina (Marinha de Guerra da Itália fascista) ordenaram que seus submarinos iniciassem uma campanha de afundamentos de qualquer tipo de navio, em qualquer parte do mundo, suspeito de estar transportando materiais de interesse militar de seus inimigos.

Essa ação chegou à costa do Brasil, do continente Americano e águas do Atlântico sul e resultou no afundamento de 37 de nossos navios de transporte de carga e de passageiros (não eram navios da Marinha de Guerra!), ceifando a vida de mais de 2.000 brasileiros, entre crianças, mulheres e homens. Seus nomes estão escritos no Monumento Nacional aos Mortos na Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

Lamentavelmente, até hoje a falácia plantada pela esquerda de que alguns desses afundamentos teriam sido feitos pelos Estados Unidos da América, insiste em aparecer em alguma notícia ou aula de história. Contudo, não há motivos para esse dado incorreto prosperar, já que no pós-guerra, Alemanha e Itália reconheceram todos eles como feitos por seus submarinos.

Desses registros, tem-se quanto à nossa costa: ALEMÃES: (o U é de unterseeboot , submarino em alemão) U-507, afundou o Baependi, o Araraquara, o Aníbal Benevolo, o Itagiba, o Arará, o Jacira, o Hammarem, o Oakbank, o Baron Dechmont e o Yorkwood; U-590, afundou o Pelotaslóide; U-128, afundou o Adelfotis e o Teesbank; U-513, afundou o Veneza, o Tutoia, o Eliuhu B. Washburn, o Richard Cosewell; U-662, afundou três barcos sem identificação; U-199, afundou o Charles W. Pesle, o Henzada e o Changri-la; U-598, afundou dois barcos sem identificação; U-161, afundou o Ripley, o Sant Usk e o Itapagé; U-591, afundou cinco barcos sem identificação; U-164, afundou o Bragaland; U-432, afundou o Buarque e o Olinda; U-155, afundou o Arabutan e o Piave; U-94, afundou o Cayrú; U-162, afundou o Parnahyba; U-502, afundou o Gonçalves Dias; U-156, afundou o Alegrete; U-159, afundou o Paracuri e um navio não identificado; U-203, afundou o Pedrinhas; U-66, afundou o Tamandaré e o Barbacena; U-514, afundou o Osório; U-516, afundou o Antonico; U-504, afundou o Porto Alegre; U-163, afundou o Apolóide; U-518, afundou o Brasillóide; U-185, afundou o Bagé; U-161, afundou o Itapagé e o Cisne Branco; U-170, afundou o Campos; U-861, afundou o Vital de Oliveira. ITALIANOS: sottomarino Da Vinci, afundou o Cabedello; Barbarigo, afundou o Afonso Pena, o Comandante Lyra, o Chalbury, o Monte Igueldo e o Stag Hound; Calvi, afundou o Backis, o Bem Brush, o Eugene V. R. Thayer e o Stavanca Calcuta; Tazzoli, afundou o Dona Aurora, o Empire Hawk e o Ombilim. Os dados do submarino italiano Arquimede não foram recuperados.

Com efeito, os afundamentos enfureceram a opinião pública brasileira, que exigiu uma atitude do governo. Assim, em 22 de agosto de 1942 o Brasil reconheceu Estado de Beligerância com a Itália e a Alemanha.

Meses depois, criou-se a FEB (Força Expedicionária Brasileira), que lutou no Teatro de Operações Italiano. O seus soldados foram carinhosamente denominados de pracinhas.

A Segunda Guerra Mundial chega ao então sul do Mato Grosso indiviso em 1943, quando o 9º Batalhão de Engenharia (9º BEC), de AQUIDAUANA, foi designado para constituir o Batalhão de Engenharia de Combate da FEB.

De nada adianta ter um exército se ele não tem como ir até às linhas inimigas para dar combate ou fazer chegar às suas, armas, munições, alimentos e assistência médica. E era essa a missão do 9º BEC: abrir estradas, arrumá-las, levantar pontes, retirar e desmontar minas terrestres!

Foi o Batalhão aquidauanense, através da 1ª Companhia de Engenharia, sob o comando do Capitão Floriano Möller, a PRIMEIRA tropa brasileira a entrar em contato com o inimigo em solo europeu!

Ainda em 1943, de LADÁRIO partiu o monitor Parnaíba, com destino a Salvador, na Bahia! Iniciando viagem pelo Rio Paraguai, chegou ao Oceano Atlântico e atingiu a capital soteropolitana com missão de escoltar navios aliados e patrulhar o porto, em razão da enorme atividade submarina na área. O “Jaú do Pantanal”, como é conhecido, ficou no Nordeste até o final da guerra, retornando em seguida para seguir patrulhando os rios pantaneiros, como faz até hoje.

Também a FAB (Força Aérea Brasileira) combateu na Segunda Guerra Mundial. Seu 1º Grupo de Caça, o “Senta a Púa!”, lutou bravamente. Um de seus pilotos, o Tenente-Aviador Oldegard Sapucaia, era irmão do Coronel Orlando Sapucaia, que mais tarde seria homenageado com a escolha de seu nome para nominar um Município de Mato Grosso do Sul: CORONEL SAPUCAIA.

A Força Expedicionária Brasileira não era constituída de super-homens. Ao reverso. A FEB é maior quanto mais humano for seu soldado, com seus erros e defeitos, valores e virtudes. E a despeito de toda espécie de adversidade, cumpriu sua missão, sendo, inclusive, no fim da guerra (mesmo lutando com 1 Divisão, enquanto os EUA lutavam com 69, na Itália), convidada pelos Aliados para integrar as tropas de ocupação na Áustria, coisa que recusou,  por questões políticas.

Ao todo, 679 pracinhas mato-grossenses – inclusive índios terena e nipo-descendentes – lutaram nos campos e montanhas da Itália. O mais graduado deles era o General-de-Brigada corumbaense, Euclides Zenóbio da Costa, responsável pela organização da Polícia do Exército (PE).

Muitos desses ex-combatentes ainda estão vivos e caminham por nossas ruas, comem chipa em alguma padaria, passeiam com seus bisnetos nas praças ou dançam na sede da Associação dos Veteranos da FEB.Vale a pena conversar com eles. Ainda mais pela certeza de que somos a última geração que terá o prazer de conhecer um personagem vivo dessa parte de nossa história.

Publicado no jornal A Crítica, de Campo Grande, em 05 de agosto de 2010.

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