domingo, 5 de setembro de 2010

Atenção: voto não tem preço, tem consequência.

Por Luiz Eduardo Silva Parreira

O escritor Alan Wykes, no seu livro Goebbels, repete a afirmação do jornalista Joachim Fest: “o nacional-socialismo era propaganda disfarçada em ideologia”. Explica que a meteórica escalada do nazismo (abreviação de nacional-socialismo) se deveu a uma feroz investida midiática, por meio da criação de todas as formas de êxtase, que “levaram a população alemã ao estado irracional, no qual as palavras do Führer eram absorvidas como verdades fundamentais”.


Esse modo de agir contrário ao julgamento preclaro foi definido por Wykes como MESMERISMO, termo cunhado pelo médico alemão Franz Anton Mesmer (1734-1815). No sentido da análise do comportamento dos alemães naquela época, significava algo como hipnotismo, encanto inexplicável e fora do comum. Qualquer eventual opositor ao partido nazista sabia que teria de trabalhar pesadamente para quebrar a atração mesmeriana que permitia Hitler pronunciar barbaridades, como a perseguição aos judeus, sem que recebesse a menor censura e, ao mesmo tempo, convertia toda acusação contra ele em mera especulação.


Muitos segmentos da sociedade se uniram contra esse mesmerismo: igrejas, jornalistas, advogados, partidos políticos, mas em vão. Os nazistas sempre estavam um passo à frente deles e, utilizando a tática de cavilação descarada das informações, conseguiram disseminar a falácia de o partido nazista era uma unanimidade. Usaram para isso as pesquisas estatísticas que são, na visão do estadista inglês Benjamin Disraeli (1804-1881), uma das mentiras. Para Disraeli havia as mentiras, as mentiras deslavadas e as estatísticas.


Enquanto os demais partidos brincavam de disputar eleições, os nazistas perseguiam sua meta de atingir o poder. Por fim, em 1933, o filósofo Oswald Spengler (1880-1936), no seu livro A hora da Decisão, resume: “a tomada do poder pelos nazistas não foi nenhum triunfo, pois faltavam oponentes”. Na ausência de uma oposição forte e preparada para contra-atacar uma incessante máquina de propaganda, capitaneada por Joseph Goebbels, os nazistas pularam de 12 para 107 cadeiras no parlamento alemão, em 1930; e, para 230, dois anos mais tarde. Essa maioria legislativa eleva Hitler a Chanceler e, posteriormente, a Führer; elabora leis segundo a teleologia nacional-socialista (como as conhecidas Leis de Nuremberg) e permite a consolidação de um dos Estados mais autoritários do Século XX.


Acostumada à ausência de vozes dissonantes, a Alemanha nazista rasga tratados internacionais e assume uma política externa irresponsável e aventureira, que culmina no maior conflito que o homem já participou – a Segunda Guerra Mundial –, culpada pela perda incalculável de vidas e materiais em todo o planeta – inclusive brasileiras – cujos efeitos e consequências ainda se sentem até hoje.


Esse paralelo histórico com a Alemanha das décadas de 20 e 30 passou despercebido pela oposição brasileira, que hoje tenta assumir a Presidência do Brasil. Similaridades fáticas não faltaram.


Não reagiram nem mesmo depois de atingidos pela “onda vermelha”, termo cunhado pelo próprio PT, em Fortaleza, mas que hoje pode ser empregado em todo Brasil: o prestígio pessoal do presidente Lula que impulsiona os seus candidatos aos píncaros das pesquisas, a começar por Dilma Rousseff. A um mês das eleições, o IBOPE divulga dados cuja interpretação aponta que de cada 3 eleitores, 2 vão votar na ex-guerrilheira comunista. Muitos deles, não por conta do seu programa político à la PNH-3 nem por causa de outros compromissos de campanha, mas só e só, porque ela é a candidata do Lula. Dilma pode se dar ao luxo de evitar debates a esta altura da campanha e de proferir discursos contraditórios sobre temas polêmicos como aborto, cotas raciais, casamento gay e MST, mudando sua opinião de acordo com o ânimo ou origem da plateia, com toda traquilidade, sem medo de perder um ponto percentual sequer nas pesquisas. Tudo efeito do campo de força emanado do mesmerismo à gauche de Lula.


A oposição, perdida, trata Dilma como Aquiles, mas não se lembra de atingir seu ponto fraco: a formação do futuro Congresso Nacional. Se a meta número um do PT é fazer dela Presidenta da República (como ela já divulgou de como quer ser qualificada), a número dois é renovar o Legislativo, principalmente o Senado. Lula declarou que mais vale hoje um senador do que três governadores! Para tanto, disse em Valparaíso que o seu partido vai fazer a campanha “pegar fogo”. Já em Recife, o presidente afirmou que em se obtendo a maioria do Congresso Nacional, será criado um “organismo forte”, para que “nunca mais a gente possa permitir que um presidente sofra o que eu sofri”.


Mesmo com declarações claras como essas, em alguns Estados, ao invés de se reforçar as dobradinhas para que os seus Senadores sejam eleitos, o que se nota é o descaso da oposição quando diante da implosão de algumas de suas chapas, que acusam seus partidos de abandono. Noutro momento, até já se publicou na imprensa que candidatos aliados a Serra, por exemplo, dizem aos eleitores: “tudo bem que você vote na candidata do Lula. Mas não deixe de votar em mim”. Atitude que o Sociólogo Demétrio Magnoli acusa de oligarquismo regional: o que importa agora é se eleger. Se alguém coligado vier junto, ótimo, mas meu esforço é para minha campanha.


A atual situação não era para causar tanta surpresa. O PT, ao contrário dos demais partidos, sempre seguiu a risca sua cartilha. Se mudava de comportamento, era para continuar o mesmo. Nos últimos 21 anos de disputa presidencial formou sua militância, doutrinou-a e a cada eleição ocupava mais posições. E pensava longe, literalmente. Havia pontos do país que só se sabia que era Brasil porque lá estava instalada uma agência do Banco do Brasil, um quartel do Exército Brasileiro e um diretório do PT. Mas isso não explica o magnetismo de Lula; aliás, como todo mesmerismo, um mistério. Contudo, esclarece porque em todo território nacional sua voz ecoa: o PT preparou há anos esse momento e ergueu cada tijolo, pacientemente.


Não era da mesma maneira um caso perdido, como se provou com as últimas eleições chilenas, vencidas pela oposição que não se intimidou com a altíssima aprovação da ex-Presidente Michele Bachelet. E ainda assim os pretendentes oposicionistas à Presidência da República do Brasil não fizeram a lição de casa nem se motivaram. Agora no último minuto buscam convencer que fazem o que podem diante da avalanche Dilma. Negativo!


Dilma não era unanimidade e a eleição poderia ter tido um ar de disputa - coisa que hoje ela definitivamente não tem – se seus opositores tivessem promovido reuniões, encontros, seminários, cruzadas. Concentrados todos os esforços para que se municiassem de dados, táticas e estratégias.


Definitivamente, a oposição não usa tudo o que têm nas mãos. Passaram a acreditar nas estatísticas, se contaminaram pelo mesmerismo lulista; nos Estados, se enfraqueceram e as coligações foram praticamente esquecidas. Seus candidatos, sem alternativa, preocupam-se agora só com os mandatos que disputam.


Henry Ford certa vez disse, quanto a buscar objetivos, que pelo caminho “há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. O PT nunca desistiu, nem mesmo quando foi ferido gravemente no escândalo do Mensalão. E diante de uma organização dessas, a oposição optou por agir como Neville Chanberlain (1869-1940), quando deveria ter agido como Winston Churchill (1874-1965).


As eleições no Brasil de 2010, se Dilma ganhar, será como a Alemã de 1933: sem triunfo, por que não existiram oponentes. Mas e daí? O triunfo aqui é mero detalhe, já que o objetivo foi alcançado.


Entretanto, o espírito Republicano, a alma Democrática, a crença no Pluripartidarismo, as asas da Liberdade e a tolerância Cristã gritam a todo pulmão que não existe eleição ganha até o fim do pleito. E que votar só com base em pesquisas é burrice, como demonstra a história. Se a campanha da oposição não é feita de acordo com o que se esperava dela, mesmo assim, seus eleitores não devem abandonar suas convicções e se deixarem envolver só pelo encanto. Devem pensar, refletir e depositar seus votos naqueles que ab imo corde acreditam. Atenção: voto não tem preço, tem consequência.

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