sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Porque o Irã não pode ter a bomba atômica?

Por Luiz Eduardo Silva Parreira


Simples, porque ele vai repassar essa tecnologia para grupos islâmicos radicais, que buscam há anos o acesso a algum artefato atômico, para chantagem ou ação terrorista. E como se tem certeza disso? Porque o atual Irã - nascido da Revolução Xiita Iraniana, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini (1900-1989) -, desde a queda do Xá Reza Pahlevi, em 1979, vem apoiando com abrigo, treinamento, armas, logística ou dinheiro, vários desses grupos mundo a fora.


Mas e qual a diferença do Irã com outros países - como o Paquistão - que em parte e veladamente, faz o mesmo? Há uma enorme diferença: esses países não têm uma política expansionista religiosa como o Irã. Faz parte da estratégia de Estado do governo de Teerã levar o islamismo xiita aos quatro cantos do mundo. E faz isso desde que Khomeini assumiu e continuada pelo seu sucessor, aiatolá Ali Khamenei.


Importante lembrar que o Irã é uma República teocrática. As decisões governamentais passam pelo crivo religioso, de maneira que sempre se verá nas suas políticas de Estado o ideal da umma (conjunto de todos os muçulmanos), imposição da charia (a lei islâmica), libertar os territórios muçulmanos dos infiéis e expandir o islamismo xiita.


Segundo diversas fontes, inclusive a prestigiada Jane's Defence Weekly (periódico especializado em assuntos de Defesa) e o Departamento de Estado americano, o Irã já repassou ao Hamas mais de 30 milhões de dólares entre 1993 e 2009, além de ter financiado viagens de 1.000 milicianos, via Síria, para treinarem em seu território técnicas de manuseio em bombas e foguetes, guerrilha e tiro de precisão; ao Hezbollah, repassou mais de 500 milhões de dólares, treinou mais de 4.500 terroristas, financiou a compra de foguetes Katyusha, mísseis terra-ar e anti-tanque; no Iraque, apoia insurgentes iraquianos, lhes enviando cerca de 3 milhões de dólares mensais e treinando seus membros para ataques naquele país. Com alguns mebros capturados dos grupos Shia e Sunni, foram encontrados materiais de procedência iraniana; Jihad Islâmico palestino, enviou em 2006 – para combaterem a ofensiva israelense – quase 2 milhões de dólares; Frente Popular para a Libertação da Palestina, ministrou treinamento para seus milicianos; Taliban, o Irã providenciou o envio de foguetes, explosivos C-4, morteiros de 107mm, armas e mísseis terra-ar.


O apoio não se restringe apenas ao Oriente Médio. Na Europa, enviou para o IRA, da Irlanda, em 1994, um carregamento de armas, drogas e dinheiro, que foi interceptado pela inteligência britânica, assim como, disponibilizou armas para os combatentes muçulmanos da Bosnia-Herzegovina, durante a guerra civil na ex-Iugoslávia, sendo que entre 2004 e 2007, 300 combatentes das forças especiais iranianas deram suporte aos bósnios. Na América do Sul, o Irã, estaria usando capital venezuelano para criar linhas de crédito para suas ações de suporte a grupos terroristas e treina membros das FARC.


A maioria desses grupos ataca Israel, cujo presidente iraniano Ahmadinejad prometeu "varrer do mapa", de maneira que por questões lógicas, é contra a bomba iraniana. A primeira explosão aconteceria em Tel Aviv!


Para complicar o quadro, o Irã é vizinho da China, que recentemente passou por graves distúrbios na província de Xinjiang, habitada por 70 milhões de uiguris muçulmanos. Há diversos grupos separatistas lá e com certeza um deles ficaria muito feliz em poder possuir um artefato nuclear para pressionar Pequim. Por isso a China é contra a bomba iraniana.


A Rússia há anos trava uma luta contra rebeldes muçulmanos da Chechênia, região muito próxima do Irã. Esses militantes são responsáveis por diversas ações terroristas dentro da Federação Russa, inclusive o último, ocorrido no início de 2010, quando um atentado suicida matou 39 pessoas. A Rússia também é contra a bomba atômica iraniana porque muito pior que rebeldes explodirem o metrô de Moscou é explodirem a própria Moscou com uma arma daquelas.


A Grã-Bretanha sofreu ondas de atentados em Londres, em 2005, que deixaram os ingleses apavorados. Naquela ocasião 52 pessoas morreram em quatro explosões. Também são contra o Irã ter uma bomba atômica, porque são alvos do terrorismo islâmico.


A França declarou que combaterá duramente os militantes da rede terrorista Al Qaeda que atuam no Sahel, uma imensa área semidesértica na fronteira entre quatro países - Máli, Níger, Mauritânia e Argélia. Também não querem que o Irã os presenteie com uma explosão atômica.


Os Estados Unidos; o Irã os denominam de "grande Satã". A presença americana no Golfo e no Afeganistão, é um grave problema para os interesses expansionistas iranianos. Praticamente os EUA cercam o Irã e por conta disso, as tropas americanas sempre serão seus alvos em qualquer parte do globo. Por isso os EUA não querem que o Irã tenha a bomba.


De mais à parte, o Irã não convenceu o mundo de que seu programa é pacífico. Suas ações (apoiando grupos terroristas) e declarações vagas, como a feita em 2005 e transmitida pela agência IRNA, de que repassaria essa tecnologia para outros países árabes, indiscriminadamente, faz com que o tema seja bem mais complexo do que o romântico discurso de que as potências atômicas não querem o desenvolvimento nuclear do Irã.


Nesse quadro o Brasil não foi ingênuo, ao tentar mediar um acordo, mas sim, vítima de um cálculo muito mal feito na sua política externa de trocar a multipolaridade pela multilateralidade internacional. A ideia é excelente, mas a condução está sendo terrível!


Na cabeça de todos os governantes dos países que já se posicionaram contra a bomba iraniana, paira um alerta de Winston Churchill (1874-1965): “A incapacidade de previsão, a falta de vontade para agir quando a ação deveria ser simples e efetiva, a escassez de pensamento claro, a confusão de opiniões até o momento em que o salve-se quem puder soa o seu gongo estridente – tais são os traços que constituem a infindável repetição da História.”


Em 1981 o Iraque criou o complexo nuclear de Osiraq. Sairia dali a bomba atômica iraquiana. Seu primeiro alvo: Israel. O segundo, Teerã. Diante da demora mundial em agir e das posições nada firmes do governo de Bagdá, Israel lançou a Operação Ópera, bombardeando o complexo e enterrando os sonhos nucleares de Saddan. O Irã de hoje age muito parecido com o Iraque de ontem. Seria bom o presidente Ahmadinejad também começar a ler Churchill.


Artigo publicado no jornal A Crítica, em 09 de agosto de 2010.



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